terça-feira, 23 de agosto de 2011

O que esperar de Thomaz Bellucci

Nós brasileiros precisamos aprender a fazer leituras isentas sobre os nossos esportistas. Quando aparece um garoto, ou uma garota, com potencial, inicia-se uma campanha ufanista em cima dele, ou dela, como se estivéssemos diante de um novo Guga, ou de uma nova Maria Esther Bueno, ou de um Pelé, ou de uma Magic Paula, de um Marcelo Negrão, de uma Ana Mozer, e por aí vai.

É claro que aconteceu com Bellucci. Ficamos órfãos de Guga e, como todos se acostumam rapidamente com o que é bom, gerou-se uma enorme ansiedade para que surgisse um sucessor do simpático Manezinho da Ilha e sua busca incessante por golpes que atingissem as linhas da quadra adversária. Acostumamo-nos com duelos maravilhosos contra Sampras, Agassi, Kafelnikov, Magnus Norman etc.

Surgiu, então, Bellucci, um garoto talentoso, com potencial para fazer uma bonita carreira no circuito internacional de tênis. Ora, estar perto dos trinta melhores do mundo não seria uma bonita carreira? Quem pode dizer que é o trigésimo melhor do mundo em alguma coisa? Eu mesmo, o melhor que cheguei no ranking internacional do "sofaísmo", foi 436º, o que muito me orgulha. Depois que eu casei, despenquei no ranking, porque tenho mais o que fazer do que ficar dias seguidos na frente da TV, venhamos e convenhamos.

Falemos em português claro, então. Bellucci é um bom tenista, mas não pode ser comparado a um Guga e não tem jogo para se figurar no top 10. Na minha opinião, ele está mais para Saretta, sem querer desmerecer nenhum dos dois, porque Saretta também era um bom tenista e chegou a ficar ali, entre os quarenta do mundo, se não me engano. A diferença é que, como o Saretta pegou a época do Guga e do Meligeni, as pessoas não o pressionaram tanto quanto estão pressionando o Bellucci que, atualmente, é disparado o melhor tenista brasileiro da atualidade.

Sejamos realistas. o Brasil não tem a menor tradição no tênis. Tirando Guga e Estherzinha, tivemos bons tenistas, como Thomaz Koch, Luiz Mattar, Cássio Motta, Jaime Oncins e o já citado aqui Fernando Meligeni. Bellucci tem potencial para chegar no nível dessa turma, o que não é nenhum demérito. Quem não vibrou com o lutador Meligeni em quadra, chegando às semifinais de Roland Garros e ganhando aquela final do pan contra o Marcelo Ríos?

Acho que o Bellucci, se pelejar muito, pode chegar perto do que fez o Meligeni. Não mais que isso. Neste ano, ele já deu sinais, inclusive, de que pode ir longe no saibro, ao derrotar Andy Murray em Madri e quase derrubar o gigante do momento, Novak Djokovic, nas semifinais. O problema é que já começaram a compará-lo com Guga e, rapidamente, tudo voltou ao normal.

Precisamos esperar do Bellucci, que ele seja um Bellucci. E, na minha opinião, ele está muitos degraus abaixo de onde pode chegar, não em termos de ranking, porque eu não acredito que ele tenha tênis para passar dos vinte, vinte e poucos do mundo, mas ele pode, sim, conseguir bons resultados, principalmente no saibro, como a semifinal do Masters de Madri. Resultados como aquele podem ser mais frequentes.

Não esperemos que Bellucci seja tri-campeão de Roland Garros, ou que ele vire número 1 do mundo. Isso não vai acontecer, nem de longe. Esperemos, no entanto, que ele jogue mais à vontade, com mais alegria. Acho que é isso que o Larri está tentando fazer com ele. Parece-me, ao ver o Bellucci jogar, que ele sofre muito em quadra, como se estivesse carregando o peso do cetro e da coroa de Guga, o que é uma enorme bobagem.

Se eu pudesse dar um conselho a ele, eu diria, do alto da minha sabedoria de comedor de amendoim e bebedor de cerveja quente e vencida: garoto, divirta-se. Faça o seu melhor em quadra, sem se preocupar com o que vão dizer, ou esperar de você. Jogue mais relaxado, no bom sentido, e você vai ver que as coisas vão melhorar pro seu lado. Não tenho dúvidas: o principal problema do Bellucci, atualmente, é psicológico. Puseram na cabeça dele que ele seria um novo Guga e ele não está conseguindo sequer ser um Bellucci.

E, por favor, deixemos essa menina, Bia Hadad, em paz. Não comecemos a imaginar que ela será uma nova Estherzinha.

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