terça-feira, 16 de agosto de 2011

Esportista de Sofá

Nunca joguei tênis. Não sei o que é "drive", não entendo "aproaches", não percebo o "top spin" da coisa. Mas adoro assistir às partidas. Alguns se irritam com o Dácio Campos e os seus: "Assim não Federer"; "Que que é isso, Nadal?". Eu gosto. O cara fala simples. Fala pra ignorantes como eu, que gostam de esporte e pronto. Sem frescura.


Pra mim tá tudo ótimo, de bom tamanho, porque eu não sei as técnicas do jogo e fico ali, vibrando de uma maneira puramente ignorante. E me dou ao direito, como todo bom esportista de sofá, enquanto belisca umas batatinhas e beberica de sua cerveja, de comentar as partidas e até dar dicas aos jogadores. "Saca mais aberto, Nole". É, sinto-me até íntimo do atual número um do mundo.


"Ai que saudade do back-hand na paralela do Guga", digo à minha esposa, ao lamentar mais uma derrota do Bellucci. Ela nem se dá ao trabalho de responder, é claro. Apenas, me olha com aquele ar de "és um farsante mesmo..."


Do Bellucci eu falarei em outra oportunidade. Quero falar hoje do jogo entre Andy Roddick e daquele alemão, acho que é Kolshreiber, ou algo assim. Não vou conferir, não. Foda-se. É isso aí, falo de tênis mas falo palavrão.


Pois é, assisti ao primeiro set do jogo, revezando com a novela, afinal, a novela está nos seus capítulos decisivos e eu vou morrer se não souber quem vai matar a Norma e se a Cecília vai perder o filho que está esperando do Vinicius. Puta raiva que eu tenho desse Vinicius, porque não tem sujeito mais escroto que esses playbas covardes que saem por aí a agredir homossexuais, empregadas domésticas... o jogo, porra! Sim, o jogo. Desculpem-me.


Roddick estava jogando bem, na minha visão de leigo. E levou o primeiro set no tie-break. Eu, que sou trabalhador, fui dormir, porque pego cedo no batente e, para a minha surpresa, soube hoje que ele levou uma virada do alemão e ainda discutiu com o Carlos Bernardes, árbitro principal da partida. "Porra", pensei. Eu sei que o Roddick está voltando de contusão e tudo, mas eu não esperava essa, não querendo desmerecer o Kolsh...algumacoisa.


O problema do Roddick, eu vou te falar. Ele é instável. Sua carreira tem sido muito conturbada. Claro, a carreira do Agassi também foi conturbada, diria um intrometido da fila do gargarejo. A do Big Mac também, diria o irmão mais velho do primeiro. Claro, mas o Agassi era o Agassi. E o Big Mac era o Big Mac. Além disso, ambos tinham uma sede de vitória comparável apenas ao desejo que eu sentia pela Luciana Vendramini quando garoto. Só mais tarde, com um pouco mais de experiência, que eu descobri que mulher de verdade mesmo era a Sônia Braga.


Ao Roddick, cazzo. Certo. Na minha opinião, se o Roddick tivesse mais estabilidade emocional, teria ido muito mais longe. Ele surgiu como uma grande promessa, um garoto com um saque potente, um verdadeiro canhão, excelente técnica e tudo mais. Eu sei, ele chegou a ser número um do mundo, mas fez pouco para o tênis. Pouco perto do que poderia ter feito. Se não estou errado, e se estiver foda-se, ele só ganhou um torneio de Grand Slam, um mísero US Open.


Ora, ele não teve culpa de ter jogado à época de Roger Federer, diria o mesmo chato da fila do gargarejo. Ora digo eu. Exatamente por ter sido contemporâneo a Sampras, Agassi chegou mais longe. Por ser contemporâneo ao Iceborg, John Mac Enroe foi mais longe. Os grandes vencedores, ao notarem a presença de um monstro, fazem de tudo para derrotá-lo. Vira uma obsessão. Já os mortais acabam se apequenando.


Não acho que o Roddick se apequenou diante de Federer, ou Nadal. Acho que o problema dele era outro, mais ou menos como o Hewitt. Sei lá, esses caras tinham um grande talento, ainda têm, mas faltou equilíbrio, faltou concentração, faltou uma fome de vitória incontrolável como a que tem o Rafa e como a que, finalmente, demonstrou ter o Djokovic, depois de ter abdicado da pizza de final de semana.


É, cara. Se você quer ser um Usain Bolt, um Phelps, um Federer, deve deixar a pizza pra nós, torcedores de sofá. Roddick desperdiçou a chance de ser um grande tenista. Assim como Hewitt também jogou fora essa chance. Os dois serão lembrados, no futuro, como jogadores que foram mas não foram.


Uma pena.

Nenhum comentário:

Postar um comentário